O vilão mais ambicioso do Universo Marvel?
Talvez seja, sim… Vamos falar de Hood (Capuz), um personagem que saiu do nada, sem alarde, e se tornou um dos principais vilões da Marvel já a partir dos anos 2000… não exatamente por sua quase-onipotência, como tantos outros (embora ele também já tenha chegado lá), mas pela sua ambição desmesurada.
Hood foi criado em 2002, em minissérie própria, para a linha MAX (linha adulta da Marvel), por Brian K. Vaughan e Kyle Hotz. Hotz sempre se especializou em histórias de terror (é um “discípulo” de Kelley Jones) e Vaughn é um roteirista talentoso, que hoje dá mais atenção às séries de TV/streaming. Mas, como saiu do nada e, aparentemente, a história era fora de cronologia, curtiu-se o material sem grandes pretensões.
E, podemos dizer que não é um dos melhores materiais de Vaughan, mas também está longe de ser ruim. Trata-se da história de um sujeito que sonhava em ser um supervilão, e conseguiu. Parker Robbins era filho de um capanga do Kingpin (Rei do Crime) e considerava seu pai seu “herói”. O pai morreu, e sua mãe teve sérios problemas de saúde. Após toda uma infância e adolescência curtindo as atividades criminosas do pai, Robbins teve de encarar a vida difícil de não ter dinheiro e ainda cuidar da mãe doente.
Robbins mentia para a sua mãe, dizendo que estava trabalhando, mas, na verdade, se metia em negócios ilícitos, se especializando em furtos de tecnologia de outros criminosos, como de depósitos da Hydra. Em um desses depósitos, encontrou um ritual demoníaco e, ao matar o demônio com disparos de sua pistola, roubou sua capa e suas botas… que eram encantadas.
A capa conferia invisibilidade e as botas proporcionavam a capacidade de levitação. Robbins descobriu ainda que poderia intensificar seus poderes com mais magia e que também podia se transformar em uma versão demoníaca de si mesmo, tornando-se mais forte. Era a chance de se tornar não só um supervilão, mas também um superchefão do crime organizado…
Esses foram os objetivos da sua minissérie original, mas ele apareceria em seguida na minissérie Beyond! (Além!), em que o roteirista Dwayne McDuffie o transformou em um anti-herói…. o que não era bem o que se desejava para o personagem.
O roteirista Brian Michael Bendis captou essa aparente inadequação e puxou o Hood para sua guarda. Ele estava a todo vapor em seu projeto de transformar os Avengers (Vingadores) em uma das franquias mais importantes da Marvel, além de contar a “longa história que levaria 8 anos para ser narrada”, e viu a oportunidade de transformar Hood em um super chefão do super crime organizado. Sim, Hood reuniu uma legião de super-vilões para se contrapor aos Avengers, e deu um belo suadouro.
Mas não parou por aí. O Hood foi se tornando relevante e aparecendo em outras séries (teve até outra série própria liderando um grupo de vilões). Descobriu-se que seus poderes vinham de Dormammu, um dos arqui-inimigos de Dr. Strange (Dr. Estranho), que os confiscou. Mas isso não acabou com a carreira do Hood: fez outro pacto com um novo demônio, tomou posse da Infinity Gauntlet (Manopla do Infinito), e depois disso, ainda teve as Norn Stones (Pedras Nornes) em sua posse. Todos artefatos de quase-onipotência… faltou algum? Bem, recentemente Parker Robbins se tornou um novo Ghost Rider (Motoqueiro Fantasma), mas esta é uma história que ainda está sendo contada agora… hehe
A questão aqui é que, até onde se sabe, Brian K. Vaughan não tinha todo esse desenvolvimento do personagem em mente quando o criou. A ideia era só contar uma história mostrando o “outro lado” das histórias de super-heróis, em que a realidade dos capangas dos vilões – e de suas famílias – é totalmente diferente. Nesse ponto, foi uma ideia bem válida e diferente (embora não exatamente inédita, mas bem trabalhada). Mas o que se viu a partir do trabalho de Bendis partiu para outra trajetória.
O Hood de Bendis lembra, de certo modo, a construção do famoso personagem Scarface: um criminoso que sai do nível mais baixo da máfia e chega ao topo, em uma história ambição pelo poder e validação de todos os meios para se conseguir isso. E, mesmo quando o nível de poder atingido por Hood atingiu patamares quase irreais, não só isso pareceu uma consequência “natural” da sua lista de conquistas, como também não causou estranheza ao parecer que ainda não era tudo que ele queria.
E essa característica foi identificada pelo Watcher (Vigia), que reparou que, mesmo controlando bem os poderes descomunais da Infinity Gauntlet, Hood não fazia o óbvio: com um estalar de dedos, poderia fazer os Avengers desaparecerem. Não, ele os enfrentava individualmente, como se quisesse se provar a si mesmo e aos adversários.
Não sou psicólogo e nem psiquiatra, mas tem um componente traumático forte aí, talvez até certo determinismo social, no qual Parker Robbins não queria deixar sua condição de supervilão, com os super-heróis talvez representando a causa de seu desgosto com a vida. Mas a busca incessante e descontrolada pelo poder pode ser um fim em si mesmo, para qualquer um – é o que se chama de megalomania… e até pode-se enfiar aí uma síndrome do impostor (em que Hood não acredita em sua própria capacidade).
Como se pode ver, há um campo fértil para muita exploração de personalidade e psique de Parker Robbins, que até agora não foi feita. Hood serve para ser um líder do submundo com pretensões irreais de poder, mas com uma capacidade de organização e liderança privilegiada. Mas o quê Hood realmente conseguiu e manteve? Nada permanente, e talvez esse seja outro ponto interessante a ser explorado. Como Parker Robbins está “ocupado” no momento sendo o “Espírito da Vingança“, fica a dica para o que teremos depois disso… porque, sim, ele não vai se estabilizar como Ghost Rider.
PM Agria é fã antigo da Marvel (e da Valiant também!), lendo quadrinhos assiduamente desde 1978. Também trabalhou como tradutor de quadrinhos das editoras Brainstore e Panini, entre outras. Quer ver mais matérias sobre a Marvel? Visite o blog Marvel Multiverse, a fanpage Marvel Multiverse e o grupo PM Agria’s Marvel Multiverse no Facebook!