Um Sucesso Inesperado … Primeira série de Spider-man 2099
Spider-Man 2099 (Homem-Aranha 2099) foi um daqueles projetos que apareceram do nada e acabaram fazendo sucesso. Quer dizer, mais ou menos, já que o próprio Stan Lee já tinha dito que havia um projeto que contaria a história da Marvel no futuro.
Esse projeto se chamaria The Marvel World of Tomorrow, a ser desenvolvido por Stan Lee e John Byrne. Sim, se apareceu o nome Byrne, havia chance de haver desentendimento. E, de fato, isso aconteceu: o talentoso criador com gênio difícil iria fazer o grosso do projeto, enquanto Lee já tinha criado seu personagem, Ravage, que teria temática ecológica. O projeto chegou a ter algumas imagens divulgadas, mas Byrne levou suas ideias consigo para a Dark Horse, onde publicou a graphic novel 2112 e a série Next Men, que seriam adaptações de seus planos.
Lee continuou insistindo com o projeto, que passou a se chamar Marvel 2093 (sim, 100 anos no futuro, como o futuro da Legion of Super-Heroes [Legião dos Super-Herois] da DC, que era 1000 anos no futuro), e mudou para apresentar novas versões dos personagens Marvel do presente em 100 anos no futuro. A Marvel não tinha um editor-chefe centralizado nessa época, e escolheu-se Joey Cavalieri, editor experiente na DC, para tocar a nova linha, agora já chamada de Marvel 2099 (provavelmente para evitar comparações).
O carro-chefe da Marvel 2099 seria, obviamente, o “símbolo” da Marvel, Spider-Man, e para criar a versão 2099 do herói foi convocado Peter David, que estava em uma fase de sucesso escrevendo o Hulk. E David já disse que não sabia o que fazer exatamente: era para ser um Spider-Man diferente, mas parecido…
David teve a feliz ideia de fazer tudo o contrário: Se Peter Parker era jovem, bem-humorado e “azarado”: no presente, sua contraparte 2099 seria adulta, mal-humorada e “bem-sucedida”. De fato, Miguel O’Hara, o “novo Parker” seria um geneticista corporativo, de uma grande corporação gananciosa chamada Alchemax. A fusão de seu DNA com o de uma aranha não seria acidental, mas proposital, para se livrar… de um vício! Ele não teria uma tia exemplar, mas uma mãe possessiva. Ele não faria piadinhas, e não se divertiria sendo um herói – muito pelo contrário, seria um herói relutante. O visual do personagem, criado pelo desenhista Rick Leonardi, era uma fantasia de halloween/día de los muertos…
Aliás, a própria linha 2099 era o oposto do futuro “à la Jetsons” de LSH – era um futuro sombrio, com clima de Blade Runner, bem cyberpunk. Um futuro controlado pela casta de ricos e pelas corporações, em que a própria polícia era privada. Bem, isso se encaixou direitinho nos planos de David para Spider-Man 2099… que foi lançado e explodiu em vendas.
Spider-Man #2099 #1 foi a revista de Peter David mais vendida em sua carreira e se manteve acima das 100.000 vendas/reservas por mês em toda a sequência escrita por David. Sim, porque David não escreveu toda essa série – as últimas 2 edições não foram dele. Isso porque a Marvel estava em meio a seu processo de pedido de concordata e vários funcionários foram demitidos sumariamente, inclusive… Joey Cavalieri. Cavalieri era o grande condutor da linha 2099, que se expandiu para 8 títulos mensais e 1 trimestral. Com sua saída, os roteiristas decidiram renunciar a seus cargos… assim, David saiu de Spider-Man 2099.
A linha 2099 foi para o vinagre depois disso, e os personagens ficaram no limbo por algum tempo, até serem recuperados aqui e ali. Peter David até mesmo teve a oportunidade de voltar a escrever as histórias de Miguel O’Hara em duas séries posteriores, mas sem o mesmo brilho e frescor dessa primeira série. Nela, Peter David se esbaldou com todo o exercício do “jogo do contrário” e seu encaixe no contexto cyberpunk, cheio de crítica social e seu característico humor inusitado. Na parte “à la Blade Runner”, David foi o primeiro a apostar em um futuro miscigenado – O’Hara era um “mexicano/irlandês”, com seu nome sendo uma homenagem a um amigo de David, Miguel Ferrer.
De fato, Spider-Man 2099 foi o guia de todo o universo 2099 (que, originalmente, era para ser o “futuro oficial”, e não alternativo) e mostrou o brilhantismo de Peter David em um projeto que seria bem diferente se fosse mantido por John Byrne (que já não teria Spider-Man, para começar… hehe). A grande pena foi a implosão da linha, que poderia ter sido uma versão Ultimate (aliás, a linha Ultimate já estava em planejamento na altura do fim da 2099, mas isso fica para outro dia… hehe)… mas esse barco já zarpou, e mesmo as tentativas mais recentes de retomada de 2099 não têm o mesmo apelo… precisamos de um novo Peter David, certamente.
PM Agria é fã antigo da Marvel (e da Valiant também!), lendo quadrinhos assiduamente desde 1978. Também trabalhou como tradutor de quadrinhos das editoras Brainstore e Panini, entre outras. Quer ver mais matérias sobre a Marvel? Visite o blog Marvel Multiverse, a fanpage Marvel Multiverse e o grupo PM Agria’s Marvel Multiverse no Facebook!