Já falei algumas vezes de algumas destas informações, aqui e no blog, mas vamos organizá-las e atualizá-las aqui… quase vai ser um post no estilo da antiga série “Origens Criativas“… hehehe. Mas vou tentar condensar aqui:

Glamour, sofisticação, jogos de poder e muito mais no Clube do Inferno mais próximo de sua casa
Glamour, sofisticação, jogos de poder e muito mais no Clube do Inferno mais próximo de sua casa

O Hellfire Club (Clube do Inferno) é uma das principais organizações subversivas do Universo Marvel, mas, sempre na zona cinzenta (vamos tocar nisso mais adiante), às vezes está do lado “certo”. E, na verdade, isso não destoa muito da origem do termo, afinal houve um Hellfire Club no passado (século 18)… na verdade, vários. Esse se tornou o termo para clubes aristocráticos que queriam privacidade para realizar rituais pagãos e orgias. E esses aristocratas envolviam gente da política, da nobreza, da realeza, da maçonaria (que também era um ponto comum dos outros grupos representados). O “principal” Hellfire Club foi o de Francis Dashwood e se reunia em sua propriedade na zona rural. O lema do clube era “Faze o que tu queres” (sim, o mesmo de Aleister Crowley e da sua religião, thelema), e havia antes de tudo um caráter zombeteiro, ridicularizando a religião e os costumes da época (o que, parece um grande pretexto para as orgias).

Série de TV britânica abordando um Clube do Inferno
Série de TV britânica abordando um Clube do Inferno

Esse tipo de clube foi abordado por um episódio da série britânica de TV The Avengers (Os Vingadores), que foi um sucesso nos anos 1960. Esse episódio, mostra uma infiltração dos agentes John Steel e Emma Peel justamente no Hellfire Club, uma reencarnação contemporânea do passado. Nessa história, Emma Peel se torna a Queen of Sin (Rainha do Pecado), vestida em lingerie preta e uma capa, com o cabelo penteado caracteristicamente… isso lembra alguma coisa? hehehe

Sim, Chris Claremont e John Byrne são bastante criativos, mas também são uma prova de que reciclam muitas ideias e isso não é demérito – a criatividade está em como trabalham com essas ideias. O Hellfire Club que criaram foi o início do grande arco da Dark Phoenix Saga (Saga da Fênix Negra), e Jean Grey/Phoenix estava no papel de Queen of Sin, agora como Black Queen (Rainha Negra)… Emma Frost se chamou “Emma” por causa de… Emma Peel!

E tem mais: Jason Wyngarde, o pseudônimo adotado pelo Mastermind (Mestre Mental) na saga, vem do líder do Hellfire Club no episódio, Jason King, que foi interpretado pelo ator Peter Wyngarde! Os demais membros do Círculo Interno do Hellfire Club também têm homenagens, não tão diretas: Sebastian Shaw vem do ator Robert Shaw, Harry Leland é baseado em Orson Welles (que interpretou um personagem chamado Harry Lime em O Terceiro Homem e dirigiu um personagem chamado Jed Leland em Cidadão Kane) e Donald Pierce vem do ator Donald Sutherland (que interpretou Hawkeye Pierce no filme MASH). Sim, essas homenagens foram admitidas pelos próprios criadores. E essa brincadeira foi continuada por outros roteiristas ao apresentarem novas versões de outras sedes do Hellfire Club no Universo Marvel.

Bom, não é só isso. Como já mencionei lá em cima no texto, pessoas relevantes do cenário político e financeiro se reuniam nesses clubes e, entre bebida, carteado, glutonaria, sexo e outras coisas, tratavam de assuntos políticos e financeiros. Essa é a origem das teorias conspiratórias sobre grupos secretos que dirigem os destinos do mundo, como os Illuminati (que, aliás, também existiram, como uma sociedade filosófica e política na Bavária). Benjamin Franklin esteve envolvido com esse Hellfire Club de Dashwood, como ligação com os clubes maçônicos da América, que estavam planejando a independência das 13 colônias. Franklin andava por Londres e Paris angariando apoio e fundos e, claro, isso era conseguido via promessas de futuros negócios lucrativos.

Claremont e Byrne e suas homenagens
Claremont e Byrne e suas homenagens

Houve uma minissérie do Hellfire Club nos anos 1990 adaptando essa realidade histórica (sem o Franklin, se me lembro bem), chegando até os dias de hoje. Mas o motivo de se vestirem como se estivessem no século 18 é uma “tradição” (que também estava lá no episódio de The Avengers). Falando nisso, ainda existem Hellfire Clubs nos dias de hoje? Segundo os conspiracionistas, sim, mas, mesmo que não existam como tais, é desnecessário dizer que os líderes dos países e organizações se reúnem, muitas vezes secretamente, para deliberarem sobre certos assuntos. Portanto, como muitas teorias conspiratórias, o funcionamento é parecido com fake news: parte-se de um ponto real para derivar coisas fantasiosas e/ou maliciosas.

Então, basicamente o Hellfire Club da Marvel remete a essa “tradição” de operadores secretos do mundo, representado pelo Inner Circle. Mas aqui tem uma coisa interessante e importante: há mutantes “do mal” nesse Inner Circle… e por que não haveria? Em tempos de militância excessiva e superzelosa, mutantes não deveriam ser retratados como vilões, por serem uma minoria oprimida. Mas no Hellfire Club, são. Ok, teve a fase Krakoa, em que (quase) todo vilão teve chance de se redimir, mas mesmo assim, aprontou em algum momento.

Hellfire Club representa a zona cinzeta dos mutantes da Marvel
Hellfire Club representa a zona cinzeta dos mutantes da Marvel

Claremont sempre fez roteiros e alegorias combatendo preconceito, apartheid, racismo, machismo, homofobia, etc, mesmo quando isso precisava ser velado, mas ele nunca caiu nessa máxima de que o mal e a opressão só aparecem de um lado, até porque a vida é assim. E o Hellfire Club da Marvel é uma representação dessa zona cinzenta, com vários membros dos X-Men também tendo participado do Inner Circle, em uma estrutura que também se reproduziu na estrutura política de Krakoa (e até de Arakko).

Não há maniqueísmo aí. E me parece ser uma concepção correta, e nem a onda atual de revisionismo parece que conseguirá mudar. E, agora que começa a era “pós-Krakoa” para os mutantes, o que o Hellfire Club aprontará? Continuará aliado? Ou não? Ou dependerá individualmente de cada membro? Acho que nada vai mudar… e nem precisa, pois a essência do Hellfire Club é essa mesma.

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